NP D NP Diário #29 | 27/06/2022 | Falar ou escrever é mais fácil que fazer | Cada vez sinto que não me consigo integrar e adequar nesta sociedade

NP Diáio

carlos_pinhal

Filósofo
Staff member
NP Diário #29 | 27/06/2022 | Falar ou escrever é mais fácil que fazer | Cada vez sinto que não me consigo integrar e adequar nesta sociedade

▀▄▀▄ Data deste diário ▄▀▄▀
27/06/2022

▀▄▀▄ Texto ▄▀▄▀
Estou a dia 27 de Junho pelas 5 e 40 da manha a fazer este NP Diário. Não consegui dormir e por tanto vou tentar fazer uma direta de forma a "atualizar" o meu horário. Como já referi em diários anteriores, tenho de estar acordado no horário compreendido entre as 7 até ás 21 horas da noite.

Por ser uma pessoa noturna, facilmente, "desregulo" o meu horário. Tenho, também, de ter alguma disciplina quando me deito para dormir. No momento em que me deito para dormir, tenho de tentar relaxar e de alguma forma, tenho de me abstrair de pensamentos que me possam fazer ficar acordado, tenho de deixar de ver vídeos que estimulam a minha mente. Tenho de começar a dominar a minha mente e os meus pensamentos. Tenho de largar o telemóvel e tentar limpar a mente quando me deito, de modo a reduzir a atividade mental e consequentemente, conseguir impor a sonolência ao cérebro.
Quando conseguir regular o horário, tenho de fazer um esforço para não o voltar a desregular. Praticar um horário diurno é extremamente importante porque o meu modo de vida assim o exige. Até hoje não me tenho dado conta, mas praticar um horário(noturno) que é incompatível com o meu estatuto social(extrema pobreza) é algo que me afeta mentalmente porque eu sei que com o horário noturno não irei conseguir fazer nada ou o que farei será muito afetado. Já para não falar, que com o horário noturno e vivendo na rua, o meu descanso será altamente afetado porque dormir de dia na rua é extremamente difícil por vários motivos.

É muito fácil alguém que está na situação social em que eu estou, mandar a culpa de tudo para os outros. É certo que é a sociedade no seu conjunto que me impõe este estatuto social, mas existe ações que em nada a sociedade influência. Tenho de assumir a minha cobardia. Eu tenho sido e sou cobarde. Não tenho que justificar a cobardia. O que tenho de fazer é lutar para ter condições para que possa enfrentar o meu destino e arcar com as consequências.

Vivo numa instabilidade constante. Vivo num risco constante de ir para a rua de um momento para o outro. Isso só não acontece porque tenho gerido a situação com muito jogo de cintura. Uma forma de gerir a situação é anular-me constantemente. Tenho de deixar de ter vontade e tenho de deixar que terceiros conduzam a minha vida. É uma batalha constante para não deixar que esses terceiros se apoderem mais de mim e ditem cada vez mais o que tenho de fazer. É por isto que é um risco constante, porque não sei se numa dessas "batalhas" a pessoa não ultrapassa os limites. Se a pessoa ultrapassar os limites, não existe outra solução que não seja a de ir para a rua.

Esta instabilidade afeta-me bastante, mas tenho de lutar para poder ter o mínimo de condições para ir morar na rua. O mínimo de condições é poder trabalhar a mente enquanto estiver a viver na rua. Se ficar parado, sem fazer nada na rua, isso terá uma influência má para o meu estado mental. Tu quando vives na rua, é fácil começares a perder o "norte" mental. É uma situação desesperadora em que és humilhado umas vezes direta e outras vezes indiretamente. Nessa situação precária é muito fácil entrares em vícios que só ajudaram á tua destruição. Eu, tendo já tido uma dependência de álcool, é algo que não quero voltar a ter. Para mim, viver na rua já é uma situação extremamente degradante do ponto de vista humano. Juntar a isso um vício destrutivo como drogas ou álcool é algo impensável para mim. É impensável para mim e para qualquer outra pessoa quando esta sã mentalmente. Não posso deixar que impulsos ou o desespero me levem á insanidade mental, porque se isso acontecer, é nesse momento que eu ou qualquer ser humano corre o risco de cair num vicio destrutivo. Eu não sou melhor que um "drogado" ou um alcoólico.

Tenho de lutar contra esta desmotivação e tentar acelerar a organização do fórum. Neste momento estou a escrever a história do nómada português, para depois organizar os NP Tweets, os NP Opiniões e por fim o NP Vida Real. É importante ter este modo mendigo organizado e pronto para que seja adicionado conteúdo de forma organizada. Quando estiver na rua, é neste setor do Nómada Português que irei trabalhar.
Após organizar esta parte, tenho de organizar secções ou tópicos fora do universo do Nómada Português. Vou querer memorizar músicas, gifs, pequenos vídeos, imagens…etc Uma serie de conteúdo de diferentes tipos, disponível para que eu e outros possam aceder a qualquer momento. Será conteúdo selecionado. O que vemos ai fora é conteúdo em "bruto" que só te faz perder tempo. É obvio que não posso perder tempo vendo esse tipo de conteúdo, mas é importante ter o fórum pronto para que quando vir algum conteúdo extra nómada português interessante, o possa adicionar de forma rápida e sem grande infraestrutura.

Escrever e falar é mais fácil que fazer. Tem vezes que me vou bastante abaixo por estar completamente sozinho no meu pensamento. Conversar com outra pessoa que partilha, pelo menos, uma opinião próxima da tua faz toda a diferença. Eu tenho que me habituar a essa solidão. Já o referi várias vezes. Mas não é fácil. Mais uma vez, falar ou escrever é mais fácil que fazer.

Ter que lidar com a minha situação psicológica e ao mesmo tempo ter que gerir uma conjuntura para que não vá para a rua passar fome não é fácil. Conseguires manter estabilidade emocional e mental gerindo estes dois casos ao mesmo tempo não é fácil. É por isso que ás vezes "quebro" e fico sem vontade de fazer rigorosamente nada. Sou vencido.

Todo o trabalho do Nómada Português tem de ser feito, ou estar pronto para ser produzido, estando eu a viver na rua. Não posso usar nenhuma "base" proporcionada por terceiros, porque se utilizar uma "base" fornecida por terceiros, esses terceiros terão o poder de impedir o meu trabalho quando entenderem. Isso não pode acontecer. É preciso referir que eu tenho o direito a ser independente. Eu tenho o direito a ser auto-suficiente. Tem sido estes direitos que sempre me foram negados ao longo da vida. De uma forma ou de outra, tenho estado sempre dependente de terceiros. Nunca consegui ser autos-suficiente através dos empregos que tive ao longo da minha vida.

Na sociedade em que vivemos a base do relacionamento é o nosso estado laboral. A pergunta "em que trabalhas?" vem passado pouco tempo de conversa. Eu sei que a continuação daquela conversa, e consequente relação, depende da resposta a esta pergunta. É este paradoxo que faz com que as pessoas aceitem empregos que nada lhes darão em termos monetários ou patrimoniais. O que muito emprego dá é uma espécie de "passe" para seres aceite numa conversa ou num círculo social.
No entanto é estupido teres um emprego que nada te dá só por causa de aceitação social, porque as pessoas são interesseiras. Depois do requisito "estar empregado" cumprido, começam a surgir outros requisitos como o tipo de emprego que tens, as tuas habilitações, o teu património… etc Isto é só estúpido. Não faz qualquer sentido nós gerirmos a nossa vida com base nestes condicionamentos.

Eu sei disto que acabei de escrever, porque são muitas as vezes que procuro aquela pessoa para ter uma boa conversa em aplicativos de amizade ou chats. O que acontece é que consigo ter dois sentimentos distintos e até contraditório passado após um tempo a frequentar esses chats ou aplicativos.
Consigo por um lado me sentir mais diferente e isolado em relação ás outras pessoas, mas por outro, consigo sentir mais orgulho na pessoa que sou. Se conseguisse encontrar uma pessoa, homem ou mulher, que consiga acompanhar e compreender o meu pensamento, seria muito bom. Mas a verdade é que nessas aplicações o que se lá encontra é do mais fútil que a sociedade tem. É verdade que ás vezes consegues ter conversas "normais", mas eu sei que aquela conversa ou relação esta destinada ao fracasso por causa do facto das pessoas não me conseguirem compreender ou pelo facto de as pessoas serem interesseiras.

A verdade é que eu olho para a sociedade e para as pessoas, sejam de forma física ou real, seja na forma virtual e o que vejo é um fosso enorme entre mim e elas. Cada vez sinto que não me consigo integrar e adequar nesta sociedade. Este sentimento seria "gerivel" se pelo menos a sociedade me permitisse ser autos-suficiente. Sendo independente, poderia viver a minha diferença. O problema é que é complicado seres diferente e ainda teres que pedir comida ás pessoas que, de certa forma, tu criticas. É uma humilhação, como se já não bastasse a situação que vivo.

Eu não sou o único nesta situação. A diferença de mim para outros é que eu escolho uma terceira "via". É natural que muitas pessoas não aceitem viver numa situação parecida á minha e sigam um de dois caminhos:
- a morte, através do suicídio ou;
- o crime, atentando contra o património, integridade ou até vida de terceiros.

Eu com o Nómada Português, tento abrir uma terceira opção. A opção de continuar a viver e que seja a sociedade e as pessoas, diretamente, a me aprisionar, ferir ou até matar. Nesta terceira opção nós assumimos o papel de vítimas que somos perante a sociedade. Uma vítima não deve se transformar no agressor. Uma vítima, deve, com todas as suas forças denunciar e reclamar o que está a sofrer. Uma vítima nunca deve ficar calada.
Nós, as vítimas, precisamos de eliminar a raiva, ódio, orgulho e sermos determinados nos nossos sonhos e objetivos. É talvez a via mais complicada de se seguir. Na minha opinião a via mais fácil é o suicídio. Desta forma a vítima cala-se.
A opção mais fácil seguinte é a de entrarmos no mundo do crime e tentar penalizar, roubar, agredir ou até matar terceiros. Desta forma a vítima transforma-se no agressor.
Ser Nómada Português é a vítima transformar-se naquilo que ela é, uma vítima. Não se calar e não se transformar no agressor.

É por isso que é importante eu ter nução de quem é a culpa da minha situação. Não tenho que me suicidar uma vez que eu não fiz nada de mal. É de igual forma importante banir sentimentos como a raiva, odio, inveja, cobiça…etc para impedir que eu me transforme no agressor.

Seja qual for o meu fim, quero ter a consciência tranquila que nunca fiz mal a ninguém. Que sempre lutei, dentro das minhas possibilidades, para que todas as pessoas tivessem uma vida de qualidade e que fossem livres. Quero que o meu último sentimento e pensamento antes de morrer seja o de orgulho e de missão cumprida.

Alguém irá valorizar isso? Não. Provavelmente tudo isto que estou a escrever e a construir, será apagado. Acabarei na rua, humilhado e descredibilizado por todas as pessoas. Ainda assim eu preciso de viver e registar tudo o que passo e penso sobre a sociedade. Ficará a cargo de Deus se deixa apagar ou se garante que de alguma forma tudo o que irei escrever e construir ficará preservado.



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