Estamos a dia 8 de Maio e hoje foi um dia complicado. Eu faço um esforço enorme para me reerguer, mas a pessoa que me mata a fome tenta-me destabilizar ao ponto para que não consiga seguir com o que tenho definido. Ela gosta que eu siga estando á "orbita" dela e que não tenha nem possa ter qualquer autonomia.
É uma decisão complicada entre ter que prosseguir psicologicamente ou não passar fome. Já não basta tudo o que tenho passado em que todos fingem que nada se passa. As pessoas são livres para negar fatos e realidade, mas esse fingimento não pode impedir os outros de evoluir.
Já estou nisto, daqui a pouco á dois anos. É notório, se analisarmos o conteúdo do Nómada português as vezes em que me fui abaixo. Tenho-me ido abaixo constantemente, muito devido a esta escolha que tenho de fazer, entre evoluir ou não passar fome.
Tenho sido cobarde? Sim, sem dúvida. Não tenho tido coragem para tomar uma decisão firme e enfrentar as consequências do que tem que ser feito. A verdade é que não posso continuar assim e não me adianta rigorosamente nada, mandar as culpas para os outros. O importante é que eu consiga evoluir e sair desta situação em que estou. O importante é criar uma base, nem que seja vivendo na rua e passando necessidades, para poder estudar, ler e escrever o que se forma na minha cabeça.
Eu neste momento estou entre Viseu e Vila Real porque vivo na habitação ou naquilo que é pago por outra pessoa.
Em Viseu tenho mais espaço e liberdade porque fico sozinho numa casa, já em Vil Real não. Em Vila Real vivo num quarto com essa pessoa, em que não pago nada para lá estar nem os senhorios sabem disso. Muitas são as vezes em que parece que cometi algum crime, porque não me posso expor. Como se já não bastasse o facto de me ter que esconder ou não ser notado, estou a ser controlado boa parte das 24H, e não posso, por exemplo, falar sozinho por causa de estar constantemente acompanhado.
Falar sozinho para mim, tem uma importância enorme em todos os sentidos. Muitas vezes consigo-me acalmar, e vislumbrar a melhor decisão que devo tomar. Muitas dessas conversas orais comigo mesmo, são privadas e por isso eu não posso falar sozinho por estar perto de outras pessoas. Neste caso, perto de uma pessoa.
Quando estou em Viseu, consigo-me colocar nos "trilhos" do que tenho de fazer. O problema é quando venho para Vila Real, em que toda a situação descrita, gera desmotivação e acabo por deixar de fazer o que tantas vezes já relatei aqui que tenho de fazer. Sirva-me de desculpa culpar os outros? Não.
É uma situação que já se repete é muito tempo, como tal é preciso tomar medidas para a contornar e poder prosseguir com a disciplina Física, alimentar e financeira. Se tiver que ir viver para a rua, então terei que cumprir com as disciplinas descritas pela força. Dá medo e falta coragem. Mas não posso continuar nisto. Tenho 32 anos, e o que me quero propor a fazer exige alguma capacidade física que com a idade tende a desaparecer.
Sempre que venho para Vila Real, a citada pessoa tenta a me destabilizar, e se eu a ignorar ela joga com o "trunfo" que tem na mão, o facto de me matar a fome e me fornecer um teto. Tudo isto para que fique á volta da "orbita" dela e não tenha a capacidade de fazer nada sem ela. Acho que esse é o objectivo dela, que fique dependente dela, mas é algo que nunca acontecerá. Estou farto de ser dependente dos outros, direta ou indiretamente. Toda a minha vida lutei para ser independente, mas a minha condição social de pobreza extrema nunca mo permitiu, e hoje é ainda mais complicado atingir essa independência face a uma cada vez mais crescente desigualdade social.
Em Viseu, voltei a fazer as coisas certas para agora, ela voltar a por tudo em causa. Não posso permitir isso, e neste momento existe a real possibilidade de virar, efetivamente, mendigo de uma hora para outra. Eu tenho tentado gerir as duas coisas, mas não tenho essa capacidade. Estou a passar por problemas graves e tenho de corrigir situações que não estão certas para então poder ter estabilidade emocional, e o mais importante de tudo, ser independente.
Hoje estive perto de virar mendigo. A verdade é que me sinto numa prisão. Muitos podem perguntar, mas, porque é que não te soltas? Fundamentalmente, pela comida. Não é algo fácil que se possa decidir, entre comida e liberdade e ela sabe disso e usa isso a favor dela. Mas eu tenho de me impor e seguir o caminho que já referi aqui diversas vezes, disciplina física, alimentar e financeira.
Hoje, decidido a seguir o caminho que tenho de seguir, comecei por a ignorar. Mas quando faço isso, ela joga baixo e começa a me mandar á cara a situação de dependência em que estou, e que fundo ela quer contribuir para isso. Estamos a falar de que ela me proporciona o básico para viver, comida e como já referi, durmo onde ela me permite dormir. Gera raiva quando estás a almoçar pão com manteiga, mortadela e queijo e pessoa do lado, com a vida dela normal e concretizada, estar-te a mandar á cara uma condição que tu não queres nem nunca pediste. Não posso admitir este tipo de coisas, tenho a minha dignidade. Foi algo que me encheu de raiva e mandei o prato contra o chão, partindo-se. Estava disposto a sair e ir-me embora mas ela, face á minha exaltação, mudou radicalmente de postura.
O problema é que não posso ceder tão facilmente e nem me posso deixar dominar pela raiva como ocorreu. Mas não é fácil. Não estamos a falar de luxúria, estamos a falar do básico e digno.
Este é um dos exemplos daquilo que passo e que contribui para que muitas vezes me vá abaixo. Mas tenho que dizer basta.
Amanha vou continuar com o meu plano. Vou sair de manhã e ir para a biblioteca de Vila Real e continuar a organização do fórum, que já deveria ter acabado. Ir e voltar, até á biblioteca, são mais ou menos, 6Km, o que serve de caminhada diária. Tenho de ter uma rotina, que me permita fazer o que tenho que fazer que é ter disciplina financeira, física e alimentar.
